terça-feira, 22 de março de 2011

“A Universidade faz parte de minha vida”

Luiz de Gonzaga Vieira
Por Jales Naves
Fotos: Arquivo Pessoal

A displicência naquele ano de 1964, quando estava concluindo o curso ginasial no Colégio Regina Pacis, em Araguari, Minas Gerais, sua terra natal, e ficou de segunda época em Matemática, acabou definindo, mais tarde, a trajetória de Luiz de Gonzaga Vieira. Como havia sido reprovado por dois décimos pelo professor João Duarte, casado com sua tia, ele prometeu que iria estudar muito, as férias inteiras, e tirar 10. Queria recuperar o prestígio com o pai, o fotógrafo Geraldo Vieira, o mais famoso da cidade, que se recusara a ir à formatura dele, com receio de que não passasse na matéria. A lição foi positiva, ele se empenhou bastante, conseguiu a nota máxima e, ao mesmo tempo, passou a gostar da disciplina, que abriu as portas para ele em vários colégios e na Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Na PUC Goiás construiu uma elogiada carreira no magistério superior, à qual dedicou-se integralmente, a partir daí, e ocupou as mais diversas funções – professor, dirigente sindical e gestor.

João Duarte teve um segundo momento importante em sua vida: ao se envolver com o movimento estudantil em sua cidade, em meados dos anos 1960, na época efervescente, acabou sendo indiciado em Inquérito Policial Militar (IPM). Ele atuava na União dos Estudantes de Araguari (UEA), participou de um congresso na cidade mineira de Governador Valadares, de grande repercussão, e quando os militares assumiram o poder, vários de seus colegas foram presos. A sua sorte foi o tio ter boas relações com o pessoal do Batalhão Ferroviário, que comandou os IPMs na cidade, e o livrar da prisão.

Mudando de planos

O professor Antônio Marques
o cumprimenta em sua formatura
Nascido no dia 31 de julho de 1947 e segundo dos sete filhos de Célia de Souza Vieira, que fora professora quando solteira e depois apenas cuidou de criar a família, e de Geraldo Vieira, Luiz Gonzaga fez o curso científico no Colégio Estadual de Araguari, que concluiu em 1967. Como exercia grande influência no meio estudantil e tinha bom relacionamento com os colegas, com os professores e com o pessoal administrativo, logo foi convidado pelo diretor Antônio Marques para lecionar no colégio. “Não era dos mais brilhantes. Tinha colegas que sobressaíam mais do que eu”, recorda-se.

Lecionar, até então, não constava de seus planos. Ele sonhava em cursar Geologia em Ouro Preto, MG, e seguir a profissão. Chegou a fazer um cursinho preparatório à noite, em Uberlândia, MG, enquanto começava a lecionar. O percurso entre as duas cidades, de 58 km, era pela estrada de chão, passando pela antiga ponte do pau furado, sobre o rio Araguari, famosa pela triste lembrança da violenta injustiça cometida contra os irmãos Joaquim e Sebastião Naves, no mais famoso caso de erro judiciário do País.

Nesse ano começou a gostar de Matemática, quando decidiu se mudar para Goiânia, para prestar vestibular. A opção não poderia ser outra, passou, matriculou-se na então Universidade Católica de Goiás, e começou a estudar. Como não tinha bolsa de estudo e nem queria contar com a ajuda financeira do pai, que não teria como ajudá-lo, decidiu trabalhar para se manter. Como só achava emprego durante o dia, teve que trancar a matrícula por dois anos, e o curso, que normalmente dura quatro anos, foi completado em seis.

Carreira no magistério

O primeiro emprego em Goiânia, como professor de Matemática, em 1968, no Colégio Ipiranga, oportunizou uma amizade com o proprietário, o professor Zeuxis de Morais, que foi vereador em Goiânia e seu aluno na então UCG. Na seqüência, lecionou no Liceu de Goiânia, no Instituto de Educação de Goiás, no Colégio Assunção e no Educandário Pio XII.

Em 1971, surgiram outras oportunidades, que aproveitou: convidado pelo diretor Mozart Barbosa, trabalhou no então Departamento de Ensino de II Grau da Secretaria da Educação do Estado, como inspetor; e, depois, a convite do diretor do Departamento de Ensino Supletivo, da SEE, Delson Leone, criou o Centro de Estudos Supletivos, no Setor Aeroporto, que serviu de modelo para a unidade que funciona hoje no Setor Universitário.

Logo após a formatura, em 1974, prestou dois concursos públicos para o magistério, e passou em ambos: da Escola Técnica Federal de Goiás e da UCG, quando começou a sua carreira, pelo então I Ciclo de Estudos Gerais, passando a atuar só nessas duas instituições de ensino. Foi o primeiro concurso para contratação de professores que a universidade realizou.

Houve um intervalo de dois anos (1978 e 79), para fazer o mestrado em Estatísticas e Métodos Quantitativos na Universidade de Brasília, quando se mudou para a Capital Federal. Na época, passou em concurso para ser professor da UnB e lecionou nesse período. Mas os planos tiveram que ser mudados: a ETFG não o liberou para fazer a dissertação de mestrado e, com isso, depois de concluídos os créditos, teve de retornar a Goiânia. Conseguiu apenas o título de especialista.

Na ETFG ocupou as mais diversas funções, de professor a vice-diretor, passando pela Diretoria de Ensino, Coordenação da Supervisão Pedagógica e a Coordenação de Matemática.

Trajetória na PUC Goiás

Luiz Gonzaga sempre se dedicou ao magistério, com algumas rápidas passagens pela administração e pela representação classista na hoje PUC Goiás. Em 1981 foi eleito diretor do Departamento de Matemática e Física, cumprindo dois mandatos de dois anos. Na época, era elaborada uma lista tríplice, cabendo ao reitor a escolha.

Nunca se filiou a qualquer agremiação partidária, mas sempre teve atuação política, liderando seus colegas e se destacando. Seu estilo discreto, conciliador e a seriedade como sempre atuou serviram para um convite para ser o ‘tértius’ numa disputa entre as duas forças políticas que sempre dominaram a Associação dos Professores da Universidade Católica (APUC): o Partido dos Trabalhadores e o Partido Comunista do Brasil (PC do B). Com a sua escolha, conciliando os dois lados nessa briga, foi eleito para presidir a gestão 1996/98 da APUC e no período conseguiu três importantes feitos: acordos coletivos de trabalho, em conjunto com o Sindicato dos Professores de Goiás (Sinpro-GO), com algumas conquistas sociais, vantagens financeiras e ganhos reais no salário; dobrar o número de filiados à entidade, a partir de reuniões em todas as congregações; e os primeiros estudos para a criação de um Plano de Previdência Complementar para os professores, que chegou a ser discutido com a Reitoria, mas não levado adiante. Constatou-se que, na época, era elevada a média de idade dos professores e se tornava necessário criar uma opção de aposentadoria ao sistema oficial, que lhes assegurasse mais recursos financeiros para a sua manutenção. Chegou a contratar um especialista para elaborar um plano de Previdência Privada Complementar.

Em 2001 foi convidado pelo então grão chanceler, padre José Pereira de Maria, para assumir a então Vice-Reitoria Acadêmica da instituição, num período de transição, que exerceu por quase dois anos. Na época, teve condições de imprimir o seu estilo conciliador, conseguindo resultados positivos em sua atuação.

Na Prefeitura de Goiânia

Ele teve uma única experiência no setor público, no terceiro mandato do prefeito de Goiânia, professor Nion Albernaz (1996/2000). Convidado pela sua colega na PUC Goiás, professora Geralda Albernaz, então primeira dama da cidade e presidente da Fundação Municipal de Desenvolvimento Comunitário (Fumdec), assumiu a superintendência da instituição, responsável pelas ações sociais em Goiânia, e desempenhou com eficácia o seu trabalho. Função técnica, levou sua experiência para ajudar a melhor estruturar, funcionalmente, a Fumdec, dando-lhe condições para o melhor exercício de suas atividades, no auxílio a pessoas que mais necessitavam do apoio do poder público.

“Foi uma experiência rica e uma oportunidade de trabalhar com uma pessoa séria, dedicada, muito atuante e presente nessa área, a professora Geralda Albernaz, responsável por um período de grandes realizações, quando a Prefeitura de Goiânia teve uma atuação forte e eficaz no atendimento social”, disse. No período, ele conseguiu uma parceria consistente da Fumdec, por meio do Conselho Municipal de Assistência Social, que presidia, com a PUC Goiás, a partir do apoio da então secretária nacional de Assistência Social, a hoje senadora Lúcia Vânia, do PSDB. A parceria viabilizou recursos financeiros para programas sociais da Sociedade Goiana de Cultura, como o Instituto Dom Fernando, utilizados na usina de reciclagem de lixo, na Escola de Circo e na consolidação do Centro de Estudo e Pesquisa Aldeia Juvenil (CEPAJ), inclusive liberando técnicos para trabalhar no CEPAJ.

Vida sentimental

Em família: com o filho Luciano, a nora Graziela, o filho
Luiz Guilherme, a nora Alessandra e o neto Guiguinha,
o filho Daniel, a nora Waira, a filha caçula Gabriela, e a
mulher Cida, com os filhos Hugo e Larissa

Tranqüilo no falar, no agir e no andar, sem pressa para nada, sempre com um sorriso ao falar, Luiz Gonzaga teve três experiências conjugais.

A primeira, com a professora Rose Meire Ribeiro do Nascimento, que conheceu em Uberlândia e com quem se casou em 1971 em Brasília. Eles tiveram três filhos: Luiz Guilherme, zootecnista graduado pela PUC Goiás; Luciano, corretor; e Daniel, professor de Educação Física, todos casados, e que lhe deram dois netos.

Quando estava na Fumdec conheceu Juliana Cláudio Camilo Néri, com quem se casou em 1998 e que lhe deu a filha Gabriela, em 2000. A união durou mais três anos. A caçula, hoje, o faz lembrar os velhos tempos, ao levá-la para as diversas atividades, como cursos de dança, esportes etc.

O terceiro casamento, e atual, foi em 2003 com a advogada Maria Aparecida de Medeiros Vieira, que tem dois filhos: Hugo, médico, formado pela Universidade Federal de Minas Gerais; e Larissa, que faz o sexto ano do Curso de Medicina na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), SP.

Aposentadoria

Já aposentado pela ETFG e pelo INSS, Luiz Gonzaga se prepara para encerrar, em definitivo, a carreira no magistério e passar a cuidar de seu sítio, no vizinho município de Santo Antônio de Goiás, onde já passa todos os momentos disponíveis que tem. Ali, cuida do jardim, das plantações, dos pequenos animais e aves que tem, e leva uma vida tranqüila, com a qual todos sonham.

Ele se lembra de quando chegou à universidade, para estudar. Nessa época, a Rua 10 tinha asfalto até o córrego Botafogo, onde havia uma ponte de madeira. Era reitor o padre Cristóbal Álvares Garcia, e a Praça Universitária era um projeto, que se concretizaria nos anos seguintes.

“A universidade faz parte de minha vida”, afirma, para destacar que essa presença foi nos bons e nos maus momentos. Conforme relata, participou dos mais diversos momentos na instituição, primeiro como aluno, depois como professor, dirigente de entidade representativa dos professores e, por fim, como gestor, numa área vital para a instituição, sempre colhendo frutos positivos.

“Você só conhece uma pessoa quando ela passa por todas as funções”, ressalta, para resgatar as palavras do presidente do Sinpro-GO, Geraldo Santana, sobre sua participação na mesa de negociações dos dois lados: primeiro como representante dos docentes e, depois, representando a universidade, sempre com uma postura de equilíbrio e bom senso nas discussões. “É um fato raro”, lembra.

Por onde passa, só encontra amigos. O gerente Contábil e Financeiro da PUC Goiás, João Sobreira de Macedo, que o conhece desde que entrou na universidade, ao vê-lo, dá-lhe um abraço e faz a observação:

- O Luiz é uma relíquia.

Um comentário:

Igor Maciel disse...

Fico muito feliz pelo material, pois realmente o Luiz Gonzaga, além de um exemplo de pessoa, é um excelente professor. Tive a honra de ser aluno dele durante a minha graduação em matemática; é uma honra maior ainda ter sido aluno dele na disciplina de estágio supervisionado, quando pude aprender muito com esse professor que dispensa comentários. Então parabéns pela iniciativa e vale ressaltar que este é e será um exemplo de pessoa e profissional. Obrigado Prof. Luiz Gonzaga por tudo que nos ensinou.