sexta-feira, 17 de junho de 2011

Sou um milagre

Depois de seis meses de funcionamento, o blog da PUC Goiás entra em uma nova fase, mais interativa. Além das reportagens produzidas pela equipe de jornalismo da Divisão de Comunicação Social (Dicom) da universidade, a plataforma virtual abre espaço também para os leitores-escritores divulgarem suas histórias de vida. E olha que a gente nem pode se orgulhar de liderar esta iniciativa; a demanda surgiu, na verdade, por parte de uma leitora do blog, que encaminhou um texto para publicação. Estamos falando da professora convidada do curso de eventos da PUC Goiás, Divina Helena de Camargo. E, se você, como ela, “quer ser o autor da sua história” – sim, a gente aproveitou o slogan do vestibular da universidade para fazer um trocadilho -, não perca tempo e entre em contato com nossa equipe, por meio do e-mail dicom.pucgoias@gmail.com. Boa leitura!

Texto: Divina Helena de Camargo*
Foto: Arquivo Pessoal


Professora da PUC,
 Divina Helena de Carmargo

Domingo, dia 1º de maio, foi a beatificação do falecido Papa João Paulo II no Vaticano. Foi atribuído a ele o milagre realizado numa freira francesa que sofria de Mal de Parkinson e foi curada ao invocá-lo num momento de profunda dor.

Bem, assistindo a matéria na televisão, lembrei-me da história da minha vida, que também posso dizer que aconteceu um milagre, não do Papa, mas de uma padre chamado Pelágio.

Minha história eu conto assim: nasci em 24 de outubro de 1959, uma menina robusta, saudável, cheia de vida. Morava na Rua 85, no Setor Sul, em Goiânia. Em fevereiro de 1960, eu então com 4 meses de vida, fui acometida da doença mais temível da época: paralisia infantil.

Nesta época, houve um surto dessa doença no Setor Sul da capital e 14 crianças foram vítimas da poliomelite; eu fui uma delas. Nesse tempo já havia a vacina Sabin contra a doença, mas só podia ser aplicada a partir dos 6 meses de idade. Eu, com apenas 4 meses, por ser muito robusta, contraí o vírus.

Segundo meus pais, foi terrível a constatação da doença, quando eu tive uma febre altíssima e minha mãe me levou ao pediatra mais famoso da época (prefiro não mencionar o nome) e ele, temeroso, pediu que nós nos retirássemos do seu consultório o mais rápido possível, com medo da contaminação de outras crianças - e até mesmo de suas filhas - que eram bem pequenas. Ele ainda disse para minha mãe se conformar com o destino, que fôssemos imediatamente para casa e que me colocasse isolada de todos até que a fase de contágio passasse.

O tão famoso médico disse que não poderia fazer nada para nos ajudar. Falou ainda que, naquelas condições, se eu não viesse a óbito, ficaria com sequelas irreversíveis, podendo não andar, não falar e viver uma vida vegetativa (o que aconteceu com algumas das outras crianças).

Imagino hoje, minha mãe, naquela situação, comigo nos braços, com uma sentença do médico, sem saber o que fazer. Graças a Deus, minha família sempre foi muito religiosa e minha mãe, mais que ninguém. Assim ela me levou para casa e não desistiu de tentar fazer algo para me salvar; entregou-me nas mãos de Deus para que Ele conduzisse a minha vida.

Naquela semana, então, chegou a Goiânia um médico ortopedista, vindo dos Estados Unidos, recém-casado, especializado em sequela de poliomelite (pois ele também teve a mesma doença), chamado Cláudio de Almeida Borges, meu anjo protetor.

Meus pais, sabendo disso, foram até ele sem mim, pois estava isolada em casa e contaram o meu caso. Ele prontamente se dispôs a ir até onde eu morava e iniciou o tratamento a domicílio até que eu pudesse ser levada ao consultório. A minha paralisia foi total: só mexia os olhos e nada mais. Assim, ele pedia que minha mãe me colocasse numa banheira com água quase fervendo, para que meu corpo reagisse à alta temperatura e eu não esboçava nenhuma reação. Apertava as chaves do carro em meu corpo e nada de reagir. Mas minha mãe e ele não desistiram de mim.

O tempo foi passando e eu, dos 4 aos 8 meses de vida, fiquei num leito de gesso, feito uma múmia, somente com os rosto de fora. Mamãe me colocava na parede próximo a ela, que costurava o dia todo, e o que a animava é que, com os olhos, eu a seguia o tempo todo. Ela dizia que eu tinha vida nos olhos, que eu conversava com ela pelo olhar, como se pedindo: não desista de mim. E assim ela fez.

Mamãe me levava toda semana na novena em Trindade, onde o padre Pelágio era o pároco. Assistia a missa e novena comigo no leito de gesso. O tempo foi passando e, aos 9 meses, fui retirada do gesso para ver como minha musculatura reagia. Nada! Meu pescoço não segurava a cabeça: ela tombava ora para um lado, ora para outro. Não sentava, meus membros superiores e inferiores eram moles, sem movimento.

Mesmo assim, minha mãe continuava a me levar em Trindade até que um dia, durante a missa do padre Pelágio, eu "xinguei" a minha mãe de "batata" dentro da igreja. Ela quase me deixou cair de tanto susto, pois do início da doença até aquele momento eu nunca mais tinha emitido nenhum som. Outras pessoas tiveram que me carregar, pois minha mãe, de tão assustada e comovida, somente tremia e chorava...

Ela não via a hora de chegar em casa e contar a todos que eu tinha retornado a voz, pois depois do "xingamento", não parei mais de emitir som. Chegando em casa, ela contou a meu pai e irmãos o que tinha acontecido. Todos ficaram muito alegres, e daí resolveram que iriam me levar até a Praça Cívica para passear num carrinho de bebê. Quando foram calçar um sapatinho em mim, me puseram em cima da mesa da copa e, no momento em que meu pai sustentou meu corpo para que minha mãe me calçasse, outro susto! Eu parei sentada sozinha e comecei a chutar minha mãe com as pernas. Voltaram os movimentos dos braços e pernas.

Meus pais não se continham de alegria e agradeciam a Deus pelo milagre! Naquela tarde, na missa, o padre Pelágio deu uma benção especial para mim, a pedido de minha mãe. Após a benção, durante a missa, começaram os prodígios e milagres.

A partir daí, me levaram ao doutor Cláudio Borges, e quando ele me viu, exclamou:

- Milagre! Milagre!

Ele dizia que, pela medicina da época, eu poderia melhorar um pouco mais, mas não daquela forma.

O tempo passou. Usei aparelho nas pernas e andei aos 3 anos de idade. Daí pra frente foram várias cirurgias corretivas, mas fui levando minha vida dentro da normalidade prevista a toda criança.

Brincava, corria, nadava, cantava (gosto de cantar até hoje), estudava. E cresci, namorei, me casei com um homem maravilhoso por dentro e por fora. Tive um filho que é uma benção para mim.

Hoje, aos 51 anos, olho pra trás e vejo o quanto Deus foi misericordioso comigo. Agradeço aos pais que tive, pela fé inabalável de minha mãe, pelo cuidado e carinho do meu anjo da guarda doutor Cláudio, que faleceu no ano passado, infelizmente.

E se servir de alento para alguém a minha história, digo: Mãe, não desista dos seus filhos! Por pior que possa parecer a situação, CREIAM! MILAGRES ACONTECEM...

*Divina Helena de Camargo é professora convidada do curso de Eventos da PUC Goiás